Eis uma terceira sugestão
bibliográfica, de leitura, relacionada com Afonso de Albuquerque, que aqui
deixamos. Desta vez trata-se de «Cartas Para El-Rei D. Manuel I», escritas pelo
próprio Vice-Rei da Índia, com selecção, prefácio e notas de António Baião,
publicada pela Sá da Costa Editora originalmente em 1942.
A edição aqui divulgada é a terceira, de 2010 (ISBN 978-972-562-396-1, 168 páginas), e, ao contrário dos outros dois livros – este e este – anteriormente referidos, este que agora divulgamos foi mesmo adquirido (por mim), e tal ocorreu na livraria Mbooks (onde abundam obras interessantes já com algum tempo, inexistentes ou difíceis de encontrar em outras lojas, e a preços mais acessíveis), situada na estação ferroviária de Santa Apolónia, no passado dia 11 de Novembro e no regresso de uma conversa que eu e Renato Epifânio tivemos com Nuno Pacheco, do Público, e em que foram abordadas e discutidas, entre outras iniciativas recentes do Movimento Internacional Lusófono, o colóquio dedicado ao «Terrível» realizado em 2015 aquando dos 500 anos da sua morte. Aquela compra constituiu como que o culminar (pessoal) óbvio, se bem que um pouco tardio, de um projecto que pretende(u) evocar um dos nomes mais importantes da História de Portugal, e que hoje as autoridades estatais, governamentais, oficiais, não parecem interessadas em recordar...
... Porque isso implica evocar um passado de força e de influência que contrasta hoje claramente com um presente de fraqueza e de irrelevância. Como é referido numa das badanas desta edição, as onze cartas nela reunidas - escolhidas de entre várias dezenas - enviadas da Índia ao Rei D. Manuel «são o instrumento onde, conforme afirma no prefácio à obra o historiador António Baião, Afonso de Albuquerque "relata as suas façanhas, se queixa das (...) ingratidões, e (...) realça patrioticamente o nome e acção (dos) portugueses no Oriente". Estas cartas, cujos originais estão conservados na Torre do Tombo, são consideradas de grande importância não apenas do ponto de vista histórico mas também literário». Mais do que isso: no prefácio Baião não hesita em afirmar que «à semelhança de Júlio César, Albuquerque empunhava a espada e a pena com igual sublimidade. (...) Era a educação humanista da época, que em Albuquerque frutificou exuberantemente. Surpreendemo-lo conhecedor dos feitos de Alexandre, o Magno e grande admirador de Cid, o Campeador. Ao analisá-las literariamente não sabemos que mais admirar, se a riqueza da sua linguagem - no primeiro quartel do século XVI! - se o vigor da sua argumentação cerrada, se o colorido e o pitoresco da sua imaginação! Enfileira justamente entre os clássicos quinhentistas portugueses.»
Numa das cartas, com data de 22 de Dezembro de 1510, o «César do Oriente» faz o relato da conquista de Goa: «Ali faleceram passante de trezentos turcos, e dali até o passo de Benastarim e de Gondali por esses caminhos jaziam muitos mortos que escaparam feridos e caíam ali e outros muitos se afogaram à passagem do rio e muitos cavalos. Depois queimei a cidade e trouxe tudo à espada, e por quatro dias continuadamente a vossa gente fez sangue neles; por onde quer que os podíamos achar, não se dava vida a nenhum mouro, e enchiam as mesquitas deles e punham-lhes fogo; aos lavradores da terra e brâmanes mandei que não matassem. Achámos por conta serem mortas seis mil almas, mouros e mouras, e dos seus peães archeiros, muitos deles faleceram. Foi, Senhor, um feito mui grande, bem pelejado e bem acabado, e afora ser Goa uma tão grande cousa e tão principal, ainda se cá não tomou vingança de traição e maldade que os mouros fizessem a Vossa Alteza e a vossas gentes, senão este, o qual soará em toda parte, e com este temor e espanto fará vir grandes cousas à vossa obediência, sem nas conquistardes, e as senhoreardes: não farão maldade, sabendo que têm a paga mui prestes.» São passagens como estas que hoje, compreensivelmente, assustam, aterrorizam, até repugnam, deixam de «cabelos em pé» muitas «almas sensíveis» e «politicamente (e historicamente, e culturalmente) correctas», que dominam a educação e a comunicação no nosso país, e que, obviamente, nenhum interesse têm em evocar, e muito menos celebrar, Afonso de Albuquerque.
A edição aqui divulgada é a terceira, de 2010 (ISBN 978-972-562-396-1, 168 páginas), e, ao contrário dos outros dois livros – este e este – anteriormente referidos, este que agora divulgamos foi mesmo adquirido (por mim), e tal ocorreu na livraria Mbooks (onde abundam obras interessantes já com algum tempo, inexistentes ou difíceis de encontrar em outras lojas, e a preços mais acessíveis), situada na estação ferroviária de Santa Apolónia, no passado dia 11 de Novembro e no regresso de uma conversa que eu e Renato Epifânio tivemos com Nuno Pacheco, do Público, e em que foram abordadas e discutidas, entre outras iniciativas recentes do Movimento Internacional Lusófono, o colóquio dedicado ao «Terrível» realizado em 2015 aquando dos 500 anos da sua morte. Aquela compra constituiu como que o culminar (pessoal) óbvio, se bem que um pouco tardio, de um projecto que pretende(u) evocar um dos nomes mais importantes da História de Portugal, e que hoje as autoridades estatais, governamentais, oficiais, não parecem interessadas em recordar...
... Porque isso implica evocar um passado de força e de influência que contrasta hoje claramente com um presente de fraqueza e de irrelevância. Como é referido numa das badanas desta edição, as onze cartas nela reunidas - escolhidas de entre várias dezenas - enviadas da Índia ao Rei D. Manuel «são o instrumento onde, conforme afirma no prefácio à obra o historiador António Baião, Afonso de Albuquerque "relata as suas façanhas, se queixa das (...) ingratidões, e (...) realça patrioticamente o nome e acção (dos) portugueses no Oriente". Estas cartas, cujos originais estão conservados na Torre do Tombo, são consideradas de grande importância não apenas do ponto de vista histórico mas também literário». Mais do que isso: no prefácio Baião não hesita em afirmar que «à semelhança de Júlio César, Albuquerque empunhava a espada e a pena com igual sublimidade. (...) Era a educação humanista da época, que em Albuquerque frutificou exuberantemente. Surpreendemo-lo conhecedor dos feitos de Alexandre, o Magno e grande admirador de Cid, o Campeador. Ao analisá-las literariamente não sabemos que mais admirar, se a riqueza da sua linguagem - no primeiro quartel do século XVI! - se o vigor da sua argumentação cerrada, se o colorido e o pitoresco da sua imaginação! Enfileira justamente entre os clássicos quinhentistas portugueses.»
Numa das cartas, com data de 22 de Dezembro de 1510, o «César do Oriente» faz o relato da conquista de Goa: «Ali faleceram passante de trezentos turcos, e dali até o passo de Benastarim e de Gondali por esses caminhos jaziam muitos mortos que escaparam feridos e caíam ali e outros muitos se afogaram à passagem do rio e muitos cavalos. Depois queimei a cidade e trouxe tudo à espada, e por quatro dias continuadamente a vossa gente fez sangue neles; por onde quer que os podíamos achar, não se dava vida a nenhum mouro, e enchiam as mesquitas deles e punham-lhes fogo; aos lavradores da terra e brâmanes mandei que não matassem. Achámos por conta serem mortas seis mil almas, mouros e mouras, e dos seus peães archeiros, muitos deles faleceram. Foi, Senhor, um feito mui grande, bem pelejado e bem acabado, e afora ser Goa uma tão grande cousa e tão principal, ainda se cá não tomou vingança de traição e maldade que os mouros fizessem a Vossa Alteza e a vossas gentes, senão este, o qual soará em toda parte, e com este temor e espanto fará vir grandes cousas à vossa obediência, sem nas conquistardes, e as senhoreardes: não farão maldade, sabendo que têm a paga mui prestes.» São passagens como estas que hoje, compreensivelmente, assustam, aterrorizam, até repugnam, deixam de «cabelos em pé» muitas «almas sensíveis» e «politicamente (e historicamente, e culturalmente) correctas», que dominam a educação e a comunicação no nosso país, e que, obviamente, nenhum interesse têm em evocar, e muito menos celebrar, Afonso de Albuquerque.
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